Desde bebê fui exposta a muitas fotos. Meu pai era fascinado por fotografar, tinha uma coleção de máquinas fotográficas e ensinou a mim e ao meu irmão a usá-las. Com ele aprendi que uma foto encerra muito mais que uma imagem.
Passei a vida com uma máquina na mão e uma ideia na cabeça: fazer um curso de fotografia quando me aposentasse. Me aposentei e encontrei no Espaço Alternativo da UFSM a Oficina de Fotografia e o Beto Fidler, que é meu professor e tem me ensinado a fotografar. Me tornei uma fotógrafa amadora, o equipamento continua sempre por perto. Fotografo e observo pessoas fotografarem. Visito exposições, compro e ganho livros de fotos, registro eventos, e os amigos já se arriscam a me pedir para registrar suas festas e celebrações.
Assim, tenho visto que algumas fotos me fazem sair da zona de conforto, levando-me a olhá-las de forma quase autocrítica. Imagens de pessoas dormindo nas praças me remetem aos pobres de Paris que podem dormir nos bancos das praças desde que tenham uma moeda no bolso, pois assim não são considerados indigentes. Os índios se lavando no chafariz da Saldanha Marinho me remetem ao fluxo migratório que vivenciamos. As pessoas amassadas no paradão da Rio Branco, os congestionamentos, os catadores, as saídas das escolas, as lâmpadas queimadas nos postes, os estabelecimentos bancários sem acessibilidade, a Gare da Estação Ferroviária, os monumentos, os prédios antigos, as igrejas, as árvores, estas e outras fotos me mostram o preço que pagamos nas condições da cidade que vivemos.
É isso qualidade de vida? Todos nós temos que nos reeducar para a fotografia. Com a revolução tecnológica e as redes sociais, a fotografia passou a ser uma forma de comunicação e não só de arte. Ter uma máquina fotográfica não nos faz um fotógrafo. Na escola e na universidade, somos ensinados a decodificar o que escrevem os autores, mas não há o mesmo cuidado com a imagem. Somos pouco ensinados a ver, a perceber com os olhos dos sentidos, a prestar atenção no entorno. Aprendi a ver olhando à volta, tentando perceber para além do que é óbvio numa rua, num bairro, numa casa, num monumento, numa pessoa, numa igreja, e na forma como as pessoas se relacionam com esses espaços. Talvez aprender a ver passe por trabalhar a partir do que não é óbvio.
Caro leitor: que tal nos reeducarmos para a Fotografia? Que tal darmos mais qualidade às nossas fotos, e apesar de tudo fazer justiça à terra que vivemos? Nossa cidade, como poucas, tem um cenário que merece ser registrado, colecionado, exposto, publicado, em colorido ou branco e preto, pois vivemos numa terra de cenário sem igual, e apesar de tudo a magia do retrato no papel ainda vai durar algum tempo. Vamos?